COLUNA - Luiz Eduardo dos Santos 

Fiscal Municipal de Obras na empresa Prefeitura Municipal de Guarujá De 20 de    fevereiro de 2002 até o presente - Consultant na empresa Joana D'arc De 1997 até o presente - Estudou na instituição de ensino Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP Mestrado - Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde -  Estudou Administração de empresas na instituição de ensino Universidade Católica de Santos - UNISANTOS Turma de 1994.

 

AIDS: A pandemia escanteada

Diga pra mim: a quanto tempo você não escuta algo sobre a epidemia de AIDS? Pergunto por que, durante quase três décadas, militei junto ao movimento de luta contra a AIDS e atualmente, o tema está esquecido. Ou seria invisibilizado?

Será que a epidemia da COVID eclipsou as demais epidemias?  Creio que não. Tenho a sensação de que, por conta da cronicidade da doença e a evolução das discussões sobre sexualidade, minimizou o seu impacto social.

Explico: atualmente, para o diagnóstico e tratamento do HIV e a AIDS existe uma rede de atenção extremamente qualificada, seja local ou regional.

Pesquisas avançadas para a tão sonhada vacina, exames laboratoriais e clínicos mais sofisticados, medicamentos tecnológicos e eficientes, tanto para a pessoa que vive com HIV e AIDS, como para as demais populações que as utilizam como método preventivo - as já consolidadas PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e a PREP (Profilaxia Pré-Exposição), fazem com que aquele  fantasma da AIDS dos anos 80 fique apenas como parte de um pesadelo triste - para quem vivenciou - ou como referência histórica - para aqueles que nasceram na era farmacológica da doença.

No campo da sexualidade, expressar seu desejo para além da heterossexualidade era inadmissível. E expressar sua identidade para além do convencionado homem x mulher? Ser travesti, Drag Queen ou Transformista era um carimbo de marginalização e de vetor de doenças. Além das exclusões, guetificação e cruéis assassinatos.

Recorrendo ao passado, Santos era considerada a capital mundial da AIDS e, assim, a região foi afetada não só pela má fama mas pela proliferação da epidemia em sua área geográfica, visto que os limites municipais quase que inexistem na prática.

Ao mesmo tempo, a resposta à epidemia se deu de forma rápida, com incríveis resultados de replicação nacional e mundial, como o bem-sucedido Programa Municipal de Redução de Danos de Santos (SP).

As ações governamentais tiveram o fundamental apoio da sociedade civil organizada contando, na época, com mais de 10 entidades que promoviam a mobilização social por meio da sua inserção nos mais diversos espectros da política pública, como na assistência, prevenção e no ativismo social.

E hoje? Vemos um imenso ocaso nesta seara. As ações governamentais reduzidas apenas a atenção em saúde. Novas estratégias? Há tempos não vemos sequer o seu estímulo.

As ONG/AIDS tiveram tristes trajetórias: algumas desapareceram; outras encerraram ou pausaram suas atividades por falta de recursos financeiros. Um dos graves motivos são devidos a negligência - visão de concorrência ou má índole - ou inoperância no apoio governamental - desprestígio ou não repasse de verbas carimbadas com aplicação junto ao terceiro setor.

 Aquelas que sobraram, para sobreviver tiveram que ampliar ou mudar seu foco ou, ainda, viver das caridades por conta das lembranças dos seus bons tempos... Uma perda social irreparável!

As estratégias de prevenção às IST/AIDS e Hepatites Virais foram institucionalizadas para o formato já desgastado das metodologias existentes na saúde pública e, com isso, tornaram-se ações protocolares e, atualmente, inexistem as inovações. Sobraram apenas disponibilização de preservativos e raras ações em dias específicos, como no Carnaval ou no Dia Mundial de Luta contra a AIDS (01.12).

Como se apenas a existência de um display de preservativos evitasse a proliferação da AIDS.

Infelizmente, esse cenário não é exclusivo de nossa região. O Departamento Nacional de AIDS, outrora referência mundial e exportador de tecnologias, foi relegado a mais um departamento qualquer da saúde pública no último (des) governo.

 Sucateado, desprestigiado e esvaziado, passou de protagonista a um figurante moribundo, arrastando os parceiros dos demais entes federais para o limbo, promovendo o maior apagão da história recente para uma patologia.

E a mobilização social? Muitos que iniciaram a luta estão partindo. Cada vez mais rápido, já que a pandemia passou dos 40 anos. A nova geração não demonstra a mesma garra exigida no início da "peste gay", já que muitas conquistas estão consolidadas por meio de leis, regulamentações e garantia de direitos.

Apesar de tudo, temos heróis e heroínas que ainda resistem. Aproveito para parabenizar o Programa Municipal de AIDS e Hepatites Virais de Guarujá pelo recebimento do Prêmio Luiza Matida, por manter a excelência na erradicação da transmissão vertical do HIV no município, ou seja, a contaminação da mãe ao seu bebê.

Como sou militante desde sempre pela causa e já ocupei o cargo de coordenação de AIDS, em um passado distante, sei da enorme luta para, ao menos, manter os serviços em funcionamento e, principalmente, garantir a manutenção das conquistas.

Vejo uma luz no fim do túnel com o atual governo. Voltado às questões sociais, a nova administração federal está recompondo as políticas públicas destruídas anteriormente e, graças ao sagrado, as estratégias de AIDS estão nesse bojo.

Feliz que pessoas amigas e supercompetentes estarão nessa nova empreitada! Não só por que conheço de perto seus trabalhos, mas pela capilarização que acontecerá, lenta e gradual, nas demais esferas federadas, assim como o fortalecimento das necessárias ações transversais.

Assim, termino esse artigo com um baita saudosismo mas, como bom brasileiro, acreditando na melhora e retorno da melhor estratégia de política pública de saúde que já existiu. Um viva para os guerreiros da AIDS E mais força ainda nessa reconstrução. Sou quem sou graças a esta história! 17/abril/2023